domingo, 15 de abril de 2018

VISITA A UM CANADÁ PORTUGUÊS 1 - Em fins de março, passei três dias no Québec, com um intenso programa cultural, a convite de dois jornalistas, que são meus amigos há quase 40 anos - a beirã Adelaide Vilela, que, em matéria de "media", toca todos os instrumentos, incluindo rádio e televisão, e o açoriano Norberto Aguiar, diretor do jornal Lusopresse. Adelaide apresentou os seus dois últimos livros (um dos quais tive o gosto de prefaciar), de uma forma original, num jantar com 200 convivas, no salão de uma das várias centenas de associações, que na América do Norte, são dedicadas ao Divino Espírito Santo, o mais português dos cultos religiosos, que se deve a Isabel de Aragão - a nossa Rainha Santa Isabel, paladina do fraternalismo cristão, de uma igreja espiritualista, voltada para os mais pobres, despojada de pompas e poder material, como atualmente a quer o Papa Francisco. (O culto do Espírito Santo, que Portugal levou a todo o universo da lusofonia, sobrevive, hoje, sobretudo, nos Açores, nas comunidades da sua emigração, e, também, em antigos povoados do Brasil, como Parati ou Alcântara, embora com lamentável ignorância da sua raíz portuguesa.). A grande festa de Adelaide, teve, entre múltiplos méritos, o de envolver muitos jovens, nascidos no Canadá, que entre música, felicitações e mensagens dos mais velhos, leram (e que bem!), algumas poesias e trechos da sua prosa. Um excelente meio de estimular a aprendizagem da língua, uma das causas maiores desta "mulher de armas", em luta constante pela expansão da nossa cultura. No dia seguinte, o jornal Lusopresse, organizou, pela 18º vez consecutiva, o seu "Dia da Mulher", com uma homenagem especial a Maria Barroso, que dez anos antes, na presença da Ministra da Imigração e outras figuras da política canadiana, numa sala cheia de portugueses, fora a principal protagonista de idêntica cerimónia, em que tive a sorte de a poder acompanhar. 2- Nas nossas comunidades, as comemorações de uma efeméride, ultrapassam, frequentemente o dia do calendário. Assim, por exemplo, o Dia de Portugal pode estender-se por uma semana de variados eventos, (festivais de música, paradas, jogos, exposições, conferências...), ao longo do mês de junho. O mesmo se diga do Dia Internacional da Mulher, que não se limita ao 8 de março. Se não coincidir com o fim de semana, é logo transferido para um sábado ou domingo. E qualquer sábado ou domingo do mês guardam o simbolismo da data! São dois exemplos, neste aspeto semelhantes, mas muito distintos, no que respeita à generalização e dimensão das realizações em que se traduzem. O dia nacional é celebrado pela Diáspora, universalmento, com um entusiasmo e uma paixão, que não têm paralelo dentro do país, onde, para além de atos oficiais, é visto como um simples feriado para ir ao "shopping", ou à praia, se o tempo estiver de feição. O Dia da mulher, em comunidades do estrangeiro, (regra geral, ainda menos sensíveis às questões de género do que as comunidades do território), é quase completamente ignorado. A mais antiga e notável exceção, de que tenho conhecimento, - em assunto que dificilmente escaparia ao meu conhecimento, em perto de quatro décadas de convívio com emigrantes - é a levada a cabo pelo "Lusopresse". Em 2018, ainda se contam pelos dedos das mãos, e são, maioritariamente, promovidas por associações femininas, as iniciativas que vão surgindo... Nas 18 jornadas que o Lusopresse dedicou à Mulher, o enfoque tem sido colocado em diversos domínios ou temáticas. Este último. em que fui oradora, num painel que partilhei com portuguesas muito jovens, questionava o poder das mulheres. Como definir o "poder" ? Pergunta com mil e uma respostas possíveis. Eu falei, sobretudo da resposta que Maria Barroso deu com o seu percurso na vida - o "poder" ao serviço da dignidade das pessoas, de uma cultura de paz e fraternidade, o poder que se pode exercer no palco do teatro, na escrita, numa sala de aulas, no terreno da política, ou do puro voluntariado.... 3 - Há muitos anos que não faço excursões de férias (para férias há o mar de Espinho!), e prefiro investir em viagens ao estrangeiro, já não para ver paisagens novas, mas para reencontrar velhas amizades. E para manifestar apreço e reconhecimento a pessoas e instituições que oferecem ao País existência nas "sete partidas do mundo". Entre elas, jornais e jornalistas têm papel insubstituível,e, desta vez, foram eles a motivação para cruzar o oceano, em muitas horas de voo!. A imprensa da emigração é, em tudo, semelhantes à imprensa regional, aos jornais de cada terra, na medida em que começam por ser parte da construção da sua identidade, e acabam por a retratar, guardando memórias, fazendo a história. Isto é tanto mais verdade, quanto melhor for a sua qualidade (que não falta quer ao "Lusopresse" do lado de lá do Atlântico, quer à "Defesa de Espinho", do lado de cá). Todavia, mesmo os congéneres mais modestos, os que enchem páginas com meras transcrições das agências noticiosas e fotos das festas comunitárias, são mais importantes do que nos pode parecer, pois até o que é pura cópia, pode vir a torna-se informação útil sobre interesses, prioridades, mentalidades, e tudo o mais é registo inédito para a posteridade... Assim foi, e assim julgo que continuará a ser, na era na internet. Uma comunidade da Diáspora, como uma terra portuguesa, sem a sua imprensa (de preferência em papel....), não tem passado nem futuro, só o presente, a morrer em cada dia. que finda

Sem comentários:

Enviar um comentário